Fernando Calmon, colunista do UOL
Entre os eventos mais tradicionais do setor automotivo no país está o Congresso Fenabrave, da associação das concessionárias de todos os tipos de veículos motorizados terrestres, incluídos motocicletas, máquinas agrícolas e implementos rodoviários. Embora focado nos negócios, várias pautas discutidas interessam ao mercado como um todo e ao comprador final do veículo.
A 21ª edição, realizada na última semana em São Paulo (SP), mostrou que assuntos abordados em outros anos começam a evoluir e há sinais de mudanças para melhor. Uma dívida do poder público mostra, agora, chance de solução. O vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif, anunciou no congresso a criação dos primeiros pátios ou depósitos destinados à reciclagem de carros. “É o início da chamada indústria desmontadora de veículos”, saudou.
No Brasil, apenas 1,5% é reciclado. Graças à iniciativa, a inspeção técnica veicular, eternamente adiada por demagogia política, quando implantada trará benefícios adicionais para renovação da frota circulante sucateada, além de óbvios ganhos de segurança e ambientais.
Indústria de reciclagem, se realmente sair do papel, ajudará a resolver outra dificuldade. Acidentes com perda total ("PT", no jargão segurador) criam caminhos escusos de recuperação malfeita e recolocação de um veículo inseguro no mercado. Centros de desmontagem fiscalizados resolveriam essa grave trapaça contra o consumidor.
FINANCIAMENTO
Sobre a conjuntura atual, se confirmou que a taxa recorde de 6% de inadimplência nos financiamentos começou a cair e deve chegar a 5% até o final do ano, ainda longe dos 3% históricos. Em grande parte ela se deve menos aos financiamentos de 60 meses sem entrada (sempre “mosca azul” no mercado) e mais ao afrouxamento excessivo das exigências bancárias. Agora, 55% dos cadastros de clientes de automóveis novos são aprovados (contra 80% na normalidade). Problema continua nos carros usados, importantes no processo comercial, cuja aprovação cadastral estacionou nos 30%.
Na palestra de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, não passou despercebido para esta coluna a afirmação de que, em breve, se regulamentará o cadastro positivo.
Trata-se de um instrumento importante para graduação da taxa de juros nos financiamentos de carros. Quem tem histórico de honrar compromissos pagará menos juros. Mas o processo de amadurecimento é longo e se atrasou por ação de entidades de falsa defesa dos consumidores com viés apenas ideológico.
Interessante foi a pesquisa da J.D. Power mostrando que 48% dos automóveis novos, hoje vendidos, são em substituição a outro veículo, 27% fazem a primeira compra e 25%, um carro adicional. Demonstração do grande potencial do mercado brasileiro em relação a países maduros, onde a troca do usado pelo novo pode representar até 80% do total.
Flávio Meneghetti, presidente da Fenabrave, mostrou confiança de que as vendas de 2012 superem em mais de 4% o recorde de 2011. Deixou a entender que, mantidas as condições atuais de IPI reduzido até o final do ano, o mercado poderia crescer até mais de 5%, resultado que, poucos meses atrás, quase ninguém cogitava. Ainda não ficou claro se o crescimento é sustentável ou significa antecipação de vendas de 2013. Dependerá de a economia arrancar do atoleiro atual com a desenvoltura de um bom veículo 4x4.
O congresso teve 40 palestrantes do Brasil e do exterior e exposição de 15.000 m² que reuniu 70 fornecedores. Presença institucional de alguns fabricantes incluiu a Hyundai Brasil. Ela monta uma nova rede, a partir do zero, apenas para o seu novo compacto nacional HB20.
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